sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O Conto

E assim eu vivi minha vida toda e agora pondero: será que valeu a pena?
[...] Já muito doente não tinha mais forças para nada. Dava muito trabalho a minha família, sei que provocava muita pena e até mesmo nojo neles e em meus amigos que por mais que me amassem não eram obrigados a passar por aquela situação junto comigo. Cada vez que eles se aproximavam de mim eu podia ver em seus olhos que assim como eu em meu corpo, eles sofriam em suas almas.
Não agüentava mais aquela vida de sofrimento. Sempre fora tão forte. Sempre trabalhei, e mesmo sendo o mais novo em minha casa, sempre me senti responsável como se eu fosse o pai de todos, mesmo às vezes precisando de um pai para mim mesmo como pessoa. Sempre tive que ser o irmão mais velho, embora sendo o mais novo e por isso muitas vezes tive que ser forte, agüentar firme, não reclamar. Tudo isso me atava, torturava e matava pouco a pouco. Toda aquela carga e responsabilidade me faziam sentir um prisioneiro de mim mesmo, um escravo das minhas próprias situações interiores e familiares. Não estou reclamando, estou desabafando e afirmo que amo tanto minha família que faria tudo, tudo, tudo novamente por eles, por minhas irmãs, por nós. Mas, durante toda a minha vida essas preocupações e afazeres, que sempre estiveram presentes na minha vida, roubaram minha adolescência e juventude. Sugaram minha saúde e muitas vezes os meus sonhos. Nunca pude sonhar, pois havia os sonhos das minhas irmãs e por me preocupar tanto com elas abri mão das minhas próprias realizações, por elas. Nunca mencionei isso, porque eu sabia que eu representava para elas tudo. Um irmão, pai, amigo e provedor. Eu era aquele que provia tudo, mas infelizmente não possuía nada próprio. Sempre lutei para conquistar, como alguns dizem sempre corri atrás desde muito cedo. Às vezes penso que foi atrás do vento, mas enfim foi assim que as coisas aconteceram. Uma de minhas irmãs tinha esse temperamento também de tentar abraçar o mundo e isso algumas vezes me ajudava a aliviar a carga, mas não podia deixá-la viver como eu já vinha vivendo desde que nossos pais partiram. Principalmente porque nosso povo nunca aceitaria uma mulher tendo a mesma posição de um homem, isso seria intolerável.
Em minha vida não tive muitos amigos e com minha doença os poucos que eu tinha se afastaram de mim por medo, por pena ou até mesmo por não saberem o que era aquilo que fez meus cabelos caírem, meus ossos atrofiarem e minha voz sumir...
Muitos sumiram, mas eu tinha um amigo que eu sabia que não me abandonaria. Podia reconhecer sua voz de longe. Desde o principio de nossa amizade ele me dizia que eu poderia viver uma vida mais calma e que eu deveria diminuir meu ritmo de trabalho e afazeres, para o meu próprio bem e pelo bem da minha saúde e família. Mas como fazer isso se as dividas e compromissos não diminuiriam? Eu tinha é que trabalhar muito, conquistar, fazer acontecer e pronto. Eu o amava e sabia também que ele dizia tudo aquilo porque me amava e se importava comigo. Para ser sincero até tentei acalmar toda minha agitação que refletia até mesmo na vida das minhas irmãs que ficaram uma muito emotiva, e a outra muito energética. Contudo não consegui, sempre acabava com mais e mais serviço para fazer e mais e mais alvos e compromissos.
Enfim, atei minha alma, desgastei meu corpo e adoeci.
Quando minha saúde piorou todos os meus amigos me visitaram, às vezes com nojo, outras vezes por curiosidade e quantos deles me mostravam em seus olhos que meu fim estava perto. Todos vieram. Todos me fizeram votos de melhoras e me ofereceram seu ombro amigo e orações. Todos, menos esse amigo a quem eu amava. A cada dia que passava isso me afligia, machucava e inquietava, não podia morrer sem me despedir dele. Dessa pessoa que se importava comigo e apesar de não nos vermos muito freqüentemente me amava e me considerava um grande amigo. Os dias passavam, a dor aumentava e o medo dele não vir me aterrorizavam, pedia a Deus incessantemente para que ele não faltasse. ‘Por favor, venha eu preciso que você segure minha mão e me diga que vai ficar tudo bem.
Eu temia, mas sabia que ele viria. Ele chegaria aqui e como sempre acontecia suas palavras me encheriam de vida, mesmo que fosse por um curto momento até que eu morresse e toda essa peleja se acabasse. Ele viria para aliviar esse sofrimento e essa dor de ter corrido tanto, tanto e não ter alcançado. Atei-me. Amarrei-me. Lutei, mas infelizmente não logrei resultado algum. E agora com a pouca força que me resta, vejo com olhos entre abertos pessoas pranteando ao meu redor. Já perdi a noção do tempo, não sei por quanto tempo tenho estado deitado nesse leito de enfermidade.
A única coisa que sei é que estou prestes a morrer.
E ele ainda não veio.
Talvez se eu tivesse parado um pouco como ele havia dito...
Não ouço mais nada, nem o choro, nem o meu respirar e nem as batidas do me próprio coração...
A minha visão escureceu...
Tudo se apagou.
Agora tudo que sinto é esse silêncio sepulcral. É o meu fim, e ele não veio.
Mas, estranhamente o sinto perto de mim.
Bem perto.
Até mesmo posso ouvi-lo falando comigo e chamando meu nome.
Alto.
Bem alto e sua voz me ergue...

LAZARO VEM PARA FORA!

De sobressalto me ergo. Acho que é Ele.
É Ele. Eu sabia que viria...
Ele olha para mim, sorri e diz: Desatai-o e deixai-o ir!

Por que correr atrás de sua vida sendo que ela depende totalmente do nosso Grande amigo Jesus que se entregou e deu sua vida por nós!
Pense nisso e talvez sua caminhada possa tornar-se significativa e melhor.

Autor: João Paulo Xavier
*Adaptado do Evangelho de João capítulo 11

Nenhum comentário: